Estes dias colaborei como professor num módulo para estudantes de mestrado na Universidade de Warwick, num curso de uma semana chamado ‘Qualidade Percebida’. Com este módulo, os alunos aprenderam os critérios para avaliar a qualidade de veículos ‘premium’, e viram como entender esta avaliação, que é bastante subjetiva, pelo ponto de vista dos clientes. Os alunos eram funcionários da Jaguar Land Rover em vários níveis, mas quase todos eram engenheiros. Eu fui o responsável por quatro aulas, e outras quatro em parceria com minha supervisora Rebecca Cain. As aulas eram alternadas com outros 12 professores neste curso de uma semana em tempo integral.
O conteúdo das minhas aulas foi dividido em três partes e envolveu, na primeira, design centrado no usuário. Apresentei teorias e exemplos de design de produto, serviços e sistemas que podem funcionar para mudança de comportamento. O foco foi na necessidade de entender o usuário do objeto de design, suas necessidades, preferências, características e limitações. A segunda parte envolveu técnicas para obter dados dos usuários, onde apresentei métodos de pesquisa como entrevistas, escalas, observação ‘no campo’, observação em laboratório, observação não-intrusiva, e pesquisas online. Cada método foi ilustrado com exemplos de aplicação e visualização de dados. A terceira parte foi onde apresentei como estes dados podem ser transformados em ferramentas concretas de design. Entre as ferramentas usadas, descrevi personas, que são representações de usuários através de alguns personagens fictícios, mas com foto, descrição, características, etc, que os fazem parecer reais e podem ajudar na ‘empatia’ com o usuário. Outra ferramenta foi o mapa da experiência (ou jornada) de usuário (customer journey maps), onde representamos como o usuário interage com os diversos pontos de contato com o sistema ao longo do tempo. Durante o curso, apresentei exemplos reais das personas e dos mapas que criei nos projetos recentes.
Creio que este módulo foi bastante interessante, onde os alunos puderam ver em um curto espaço de tempo todo o processo de design, desde a teoria de design de interação, a coleta de dados e o uso desses dados em ferramentas de design, e finalmente vendo como essas ferramentas podem ajudar concretamente no design de produtos e serviços para que estes supram as necessidades dos usuários. E foi importante para os engenheiros verem que é fundamental levar em consideração a opinião dos usuários dos produtos, ao invés de criar tudo como se fosse para si próprio.
A primeira e a terceira aula tiveram uma parte de workshop onde os participantes puderam discutir em grupos e praticar o que aprenderam. Na primeira, eles praticaram como fazer o design de produtos interativos em protótipos em papel, e no final fizeram mapas da jornada do consumidor para atividades relacionadas com automóveis, como abastecer o carro ou estacionar num shopping center.
Outras aulas, ministradas por outros professores, envolveram por exemplo a avaliação de diversos tipos de revestimento interno de veículos como couro legítimo, couro sintético, camurça ecológica, entre outros. Os alunos tinham que adivinhar qual era o tipo de acabamento pelo toque, e dizer qual parecia mais luxuoso.
Outra atividade foi um desafio para fazer o alinhamento as partes exteriores num esquema 2D dos veículos em miniatura (um Jaguar e uma Land Rover). Não foi tão fácil quanto parece, pois era preciso manter todas as peças alinhadas e com a mesma distância entre elas, e é necessário uma estratégia para escolher qual peça alinhar primeiro para finalizar o desafio em menos tempo.
Outras aulas, ministradas por outros professores, envolveram por exemplo:
- A avaliação do design via CAD num powerwall, que é uma parede com projetor de alta definição para vermos os modelos em tamanho grande.
- Avaliação de imagens de detalhes de veículos, comparando duas opções para saber qual é a mais sofisticada
- A Iluminação ambiente, que é como carros de luxo estão usando luzes e cores para criar ambientes agradáveis para os clientes
- Controle ótico da qualidade da pintura, com uso de um espectrômetro, bastante útil para avaliação de pinturas complexas como as metálicas e peroladas
- Soundscape, que é o estudo dos sons, e aplicando ao mercado automobilístico podemos ver como percebemos a qualidade de um carro pelo barulho do motor, ou pelo silêncio do interior.
A atividade final foi a avaliação do exterior e interior de 5 carros de luxo, aplicando os conceitos aprendidos nos exercícios anteriores. Os carros eram: Jaguar F-pace, Mercedes GLE, BMW X1, Volvo XC90 e Toyota Landcruiser. Os materiais, as texturas, as cores, iluminação, os distanciamentos e nivelamentos entre as partes que compõe o exterior e interior de um carro de luxo foram avaliadas nos menores detalhes.
Que orgulho de vc!!!!! Que interessante!!!! Adorei!
Sucesso sempre!
Queria fazer um curso na área de vendas de carros de luxo ou algo que ajude nisto. Você dá algum ou me ou me indica?
Grata!
Olá Ana Laura, não dou cursos de vendas. Boa sorte na procura.