Ano passado selecionamos uma aluna de graduação para colaborar com o projeto que estamos trabalhando atualmente, como parte do programa de iniciação científica da Universidade de Warwick. O projeto é relacionado à experiência do usuário de trens, sejam passageiros ou pessoal de bordo, e o uso de tecnologia. Ela faz o curso de Engenharia Civil, então ficamos pensando como poderíamos integrar as duas coisas, seja para que o projeto beneficie, e que ela se beneficie também, com um trabalho que seja relevante para o curso e carreira.
Chegamos a uma proposta de projeto que envolveria o planejamento de estações de trens, e como os passageiros navegam pelo espaço, onde aguardam o trem, e como embarcam. Parte dessa ideia surgiu pelo fato de que frequentemente, alguns vagões estão mais cheios do que outros. Em alguns casos, passageiros acabam tendo que viajar em pé, mas no outro extremo do trem existem assentos vazios. Queríamos então entender as razões para esta diferença de ocupação. Portanto, poderíamos investigar a existência de um ‘embarque concentrado’.
Embarque concentrado acontece quando passageiros de trem se congregam em determinadas áreas da plataforma de embarque, por exemplo próximo às entradas principais e escadas. Isto influencia a distribuição de passageiros pelos vagões, o que afeta negativamente o conforto dos passageiros, a segurança na interface entre a plataforma e o trem, a eficiência da rede ferroviária, e a reputação do transporte férreo como um todo.
Então o projeto teve como objetivo determinar se o embarque concentrado ocorre em estações do Reino Unido, para entender sua relevância para a construção de novos trens e da infraestrutura física nas estações.
Oito câmaras de vídeo foram usadas para observar os movimentos de passageiros na estação de Oxford, afixadas em diferentes partes da plataforma para filmar os movimentos doss passageiros (imagem ao lado). Dados foram coletados de nove trens. Através da análise das gravações, o número de passageiros embarcando por cada porta do trem foi determinado, e a distribuição desses dados foi mapeada ao longo da plataforma.
Como resultado, nós observamos várias tendências, por exemplo o fato de que passageiros tendem a esperar o trem logo próximo à entrada da plataforma, como foi proposto na hipótese. Consequentemente, eles embarcam pelas portas mais próximas, o que causa longas filas para o embarque. Na foto ao lado mostramos um exemplo extraído das filmagens, e na imagem no topo da página mostramos um diagrama de dois trens e o número de passageiros embarcando por cada porta em relação à entrada da estação.
Nós propomos algumas soluções para este problema, como por exemplo o uso de informação em tempo real sobre o nível de ocupação de cada vagão. Isto seria valioso para minimizar o embarque concentrado, pois permitiria aos passageiros tomar decisões conscientes a respeito de onde eles poderiam aguardar o trem para entrar pela porta com mais chances de ter assentos livres. Os resultados indicam a relevância de processos de design centrado no usuário, particularmente nas etapas de planejamento e definição de prioridades para projetos de engenharia.
A aluna finalizou o trabalho e escreveu sua monografia no fim do ano, que foi muito bem recebida pelos avaliadores. O conteúdo foi transformado em um artigo, enviado, aceito e apresentado em uma conferência. Depois, uma versão mais extensa do conteúdo foi submetida para uma edição especial de uma revista acadêmica. Para ler os artigos completos, siga o link abaixo (em inglês).
Fox, C., Oliveira, L., Kirkwood, L., Cain, R., 2017. Understanding users’ behaviours in relation to concentrated boarding: implications for rail infrastructure and technology, in: 15th International Conference on Manufacturing Research – ICMR. IOS Press, Greenwich, London, UK.
Oliveira, L.C., Fox, C., Birrell, S., Cain, R., 2019. Analysing passengers’ behaviours when boarding trains to improve rail infrastructure and technology. Robotics and Computer Integrated Manufacturing. 57, 282–291. doi:10.1016/j.rcim.2018.12.008