Recentemente publicamos dois artigos científicos em conferências internacionais no tema da relação entre veículos autônomos e pedestres. Os dois artigos são relacionados a dois estudos diferentes, um usando realidade virtual, e o outro usando veículos reais. Descrevo os dois brevemente abaixo, seguido da referência bibliográfica.
Projeções no chão
Dentro do projeto UK Autodrive, nós examinamos o comportamento de pedestres ao cruzar a rua enquanto um veículo autônomo se aproximava. Dois conceitos de interação homem-máquina foram avaliados, mostrando as intenções do veículo para os pedestres. O primeiro consistia em projeções no chão, onde o veículo mostrava setas apontando para a direção que o veículo ia tomar. O segundo era os indicadores tradicionais, piscando em amarelo como setas de veículos comuns. Os participantes tiveram a experiência numa faixa de pedestres simulada, para avaliar a interação com o veículo.
Apesar de que nenhum dos dois conceitos ficou imune a críticas, houve preferências pelas projeções no chão, tanto em termos dos dados quantitativos coletados nos questionários quanto nas opiniões coletadas em questões abertas. Resultados mostraram como os pedestres percebem a segurança em relação aos veículos autônomos, e o que exigem para garantir a segurança nos cruzamentos. É importante levar em consideração o fato de que a comunicação entre pedestre e veículo é geralmente bi-direcional, mas neste caso não existe um motorista. Portanto, novas indicações de intenção no trânsito devem ser estudadas, como a apresentada aqui, para minimizar riscos aos pedestres, que são os agentes vulneráveis nessa relação.
Burns, C. G., Oliveira, L., Thomas, P., Iyer, S., & Birrell, S. (2019, June). Pedestrian Decision-Making Responses to External Human-Machine Interface Designs for Autonomous Vehicles. In 2019 IEEE Intelligent Vehicles Symposium (IV) (pp. 70-75). IEEE. https://doi.org/10.1109/IVS.2019.8814030
Realidade virtual
Outro estudo avaliou as percepções em relação a estes veículos autônomos, mas no caso de áreas urbanas que funcionam como vias de uso misto, tanto para veículos como pedestres e ciclistas, todos compartilhando o mesmo espaço. Espera-se que no futuro, veículos autônomos possam andar em áreas para pedestres para funcionar como o meio de transporte levando pessoas aos seus destinos finais. Caracterizam assim a ‘última milha’ num sistema de transporte, por exemplo levando pessoas de uma estação de trem até um shopping center. Mas o que não está claro é como os pedestres vão encarar estes veículos passando por perto.
Neste estudo, um protótipo de veículo autônomo foi filmado usando câmeras de 360 graus, e as imagens inseridas no sistema de realidade virtual. Com o uso de um equipamento chamado Oculus Rift, participantes puderam observar o veículo passando a distâncias variáveis, e em velocidades diferentes. Eles então responderam a um questionário avaliando a confiança e segurança diante destas combinações de distâncias e velocidades. Os resultados mostraram que a confiança era menor quando o veículo estava mais rápido e mais perto. O uso de realidade virtual foi fundamental para podermos testar estas situações que seriam perigosas, e os participantes consideraram que a imersão no sistema foi bastante convincente, evocando respostas consistentes.
Burns, C. G., Oliveira, L., Hung, V., Thomas, P., & Birrell, S. (2019, July). Pedestrian Attitudes to Shared-Space Interactions with Autonomous Vehicles–A Virtual Reality Study. In International Conference on Applied Human Factors and Ergonomics (pp. 307-316). Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-030-20503-4_29